segunda-feira, 27 de junho de 2011

Afetividade




Adriano ra090211

                Leite começa o texto dizendo que os estudos e pesquisas sobre afetividade, nos meios acadêmicos, são recentes (anos 90). Ele também cita a pesquisa de Grotta (2000), que demonstra a importância da mediação feita por pais, professores e parentes para a escrita/leitura, através da afetividade. Começou-se a estudar a afetividade tão recentemente, porque temos uma tradição secular que gera um conflito entre razão x emoção, e durante séculos a razão sempre foi considerada mais importante. Por isso deveríamos dominar e controlar nossas emoções. 

Esse pensamento se reflete no currículo das instituições de ensino. As artes na escola e no vestibular são consideradas “conhecimentos inferiores”, em minha opinião, fica até mesmo abaixo das disciplinas de humanas. Arrisco em dizer que até mesmo no ensino superior, os cursos de artes são considerados pela comunidade universitária como menos importante. Os institutos de artes da Unicamp tem um dos menores orçamentos per capta. Essa realidade se reflete em outras universidades e é consequência dessa ideia de que a razão deve se sobrepor a emoção. 

                Assim, em geral, o objetivo principal das instituições de ensino é fazer o aluno “saber” e não fazê-lo gostar. Isso eu percebi durante toda a minha vida, inclusive agora na Unicamp. Uma minoria dos professores se interessa pela opinião dos alunos, se interessam em fazer o aluno gostar da matéria. Claro, existem aqueles “Shows-Mans” de cursinhos, em que são disputados por várias escolas particulares, pois atraindo mais alunos podem aumentar o faturamento. É uma lastima uma decadência (em minha opinião). O objetivo desses professores não é ensinar, mas sim divertir. 

Já tive professores assim, eles gostam de apelar tanto para humor que acabam distorcendo o conteúdo, fazendo generalizações e comentário discriminatórios com o objetivo de fazer o aluno “gostarem” do assunto. Isso aconteceu principalmente no caso das matérias de humanas. Acredito que essa forma tão ruim quanto a “afetividade lambida”, que é aquela afetividade do professor “bonzinho” que não quer desagradar o aluno. Essas duas formas de afetividades são prejudiciais para o aluno e para o aprendizado do mesmo. 

O ensino “bancário”, extremamente criticado por todos os educadores, infelizmente, continua vigente no país. Pois há uma junção de vários fatores como excesso de carga horária e alunos, falta de condições de trabalho, e principalmente acomodação de muitos. Muitos professores, que inclusive se formaram na Unicamp, tiveram a chance de conhecer propostas de ensino que vão no sentido contrário ao ensino “bancário”, porém percebemos muitas não assimilaram ou não quiseram assimilar essas propostas. Mesmo em escolas particulares onde trabalham professores que, teoricamente tiveram uma ótima formação, isso acontece. Pois o ensino tradicional é mais cômodo. Até mesmo para entrar na universidade, onde os futuros professores vão conhecer as propostas anti-“bancáricas”, é preciso ter um conhecimento adquirido “bancariamente”. Nessa lógica esquizofrênica, a afetividade não está nem em questão. Os cursinhos e escolas particulares consideram os alunos como fontes de dinheiro e propaganda (caso passem no vestibular) e os alunos consideram as escolas particulares e cursinhos como um investimento financeiro para não pagar o ensino superior e depois quando estiverem empregados poderão ter um emprego com boa remuneração e assim recuperar o investimento. Inclusive eu tive que “investir” para entrar na faculdade. Desculpem-me desviar do assunto, mas não pude deixar de comentar esse ponto.

“(...) a afetividade está presente em todos os momentos ou etapas do trabalho pedagógico desenvolvido pelo professor (...)” Essa frase de Leite pode ser comprovada pelas entrevistas que fiz com aluno em que apresentei no seminário. Também pode ser comprovada pela vivência de cada um de nós. Mesmo no ensino superior, percebe-se a importância da afetividade para a melhor aprendizagem ou não do conteúdo. Não estou dizendo que sem afetividade não há aprendizagem, porém com a afetividade a aprendizagem se torna mais fácil, principalmente no ensino básico. 

A pesquisa de Tassoni (2000) demonstra que as crianças de seis anos que participaram de sua pesquisa analisam a professora basicamente através de uma ótica afetiva. Acredito que com o passar do tempo a afetividade vai “perdendo” espaço para a cognição. Porém o ideal seria um equilíbrio entre esses dois fatores. 

Leite diz que o currículo escolar atual é marcado basicamente de objetivos irrelevantes do ponto de vista do aluno. Concordo com ele, pois a maioria dos professores não explicam o porque se estudar e história ou química, por exemplo. Esse é um fato triste, pois sem identificação com o tema o aluno fica desmotivado para estudá-lo. Claro, o ensino não deve ser totalmente relacionado com o mundo do aluno, deve-se ter um equilíbrio que eu não saberia dizer como seria.

Para finalizar essa postagem gostaria de compartilhar com todos a minha experiência que tive hoje (27/06/2011). Faço uma disciplina do curso de música que se chama “Didática e Pedagogia Musical”. Essa disciplina pede para visitar uma escola por um determinado tempo e se possível fazer interferências. A professora de artes da escola que visitei me cedeu algumas aulas para eu fazer atividades musicais. Hoje foi o dia de encerramento das atividades com as turmas em que estagiei. Os alunos são do primeiro ano do ensino médio(15-16 anos). Em uma das turmas fiz uma atividade diferente, apenas conversei. 

Nessa conversa fiz uma avaliação sobre a turma e pedi que fizessem uma avaliação sobre mim. Eles disseram muitas coisas boas, tentei argumentar alguns pontos contra mim mesmo, erros que cometi. Porém, talvez pela natureza inovadora da disciplina de música, em que se exige criatividade, percepção e coordenação motora os alunos não se importaram tanto com os meus “vacilos”. Depois de ler sobre a visão que Piaget tem sobre o erro, gostaria que os alunos os mostrassem para mi, porém isso não aconteceu. Houve um clima de despedida, pois possivelmente não os encontrarei no semestre que vem por indisponibilidade de horário. No fim percebi que vale todo o esforço para ser professor.

- LEITE, Sérgio Antônio da Silva. Afetividade e Práticas Pedagógicas. In: Afetividade e Práticas Pedagógicas. SP: Casa do Psicólogo, 2006 1ª edição.

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