segunda-feira, 6 de junho de 2011

Análise S9 - Implicações educacionais

Resenha sobre as Implicâncias educacionais das obras de Vigotsky e de Wallon

            Ambos os autores dos quais iremos tratar, não escreveram diretamente sobre práticas pedagógicas, mas essas podem ser muito aperfeiçoadas por suas teorias. Wallon inclusive esteve envolvido diretamente em projetos relacionados à educação, e Vigotsky sempre exerceu o magistério durante sua vida.
            Em muitos pontos, as implicações que podemos extrair das duas obras acabam coincidindo e complementando-se, porém, será feita uma análise individual de cada autor para o texto tornar-se mais didático e conciso.

Wallon

Esse autor devido à sua teoria psicogenética começa por estudar a criança que é onde se dá a origem dos processos psíquicos. Ele estuda a pessoa completa, ou seja, integrando os domínios afetivo, cognitivo e motor para entender a relação e a predominância desses fatores.
Com extrema preocupação com a educação, Wallon participou ativamente de projetos que visavam sua melhoria, porém não legou nenhuma obra escrita a esse respeito, mas apesar disso sua obra é de grande valor para as práticas pedagógicas. Então, dizemos que sua trajetória possui uma pedagogia explícita e uma pedagogia implícita.
A primeira diz respeito acerca de sua participação no Grupo Francês de Educação Nova, na qual participou do debate educacional de sua época. Para ele, o problema principal era a separação feita pela escola de indivíduo e sociedade, e apenas dois autores conseguiam manter essa integração, Decroly que via a criança como ser total, concreto e ativo, ou seja, um ser ao mesmo tempo individual e social, plenamente firmado e situado, e Makarenko que entende que o ser humano é diferente dependendo do tempo e do espaço e à cada situação deve ser aplicado um tratamento especial.
Outra importante contribuição de Wallon diretamente na educação é o projeto Langevin-Wallon que tinha por objetivo reformar o ensino francês no pós-guerra. A orientação do projeto seguia o pressuposto de estabelecer uma “educação mais justa para uma sociedade mais justa”. Ele divide o ensino em graus baseando-se em níveis de desenvolvimento e em maneiras diferentes e específicas de lidar com tais níveis e estabelece que deve ser dada igual importância às tarefas manuais e às tarefas intelectuais. O horário segundo ele deve ser estabelecido à respeitar as necessidades fisiológicas e psicológicas do aluno. Nessa concepção de Wallon e Langevin a escola é indispensável à formação do ser humano.
Já a pedagogia implícita em sua obra não está escrita diretamente em seus livros, mas os permeiam. Para o autor, para o adulto conhecer a criança ele deve levar em consideração sua etapa de desenvolvimento e não se tomar como referência para dessa forma poder atender os objetivos e necessidades de cada fase específica. Porém, essas etapas podem variar de acordo com as condições de vida da criança e o educador deve observar e investigar o aluno para perceber essas variantes e poder adequar sua prática. O saber escolar não pode isolar-se, tornar-se algo a parte do meio físico e social, mas deve utilizar-se das possibilidades que lhe são oferecidas. A escola é um meio funcional da criança, e pode constituir grupos, tendências variadas, etc. É o que estabelece um contato organizado com a cultura.
O papel do professor é organizar e mediar esses grupos que são naturalmente formados e de tentar inclusive formar outros artificialmente para induzir um contato entre as diferenças, pois é o mediador entre a cultura e o aluno e também porque a função da escola é oferecer sem discriminação o que há de melhor na cultura e essa atuação traz reflexos na vida adulta. Portanto, o professor deve fundamentar seu trabalho no respeito pelo aluno, avaliando sempre o seu papel e como o vem exercendo, deve ter em conta as possibilidades de desenvolvimento desse aluno e seu meio, deve observá-lo como pessoa completa, integrada e contextualizada, sempre tendo em vista as emoções e sua possibilidade de contágio. É preciso que o professor desperte interesse nesse aluno observando-o para descobrir seus interesses para direcionar sua prática em função deles, e deve sempre investigar porque algumas vezes não há envolvimento por parte do aluno, pois a aprendizagem só ocorre se houver o interesse que nasce de uma necessidade do aluno. É também obrigação desse professor transformar o ambiente físico escolar em um meio propício a aprendizagem do aluno.
E a escola, por fim, como meio deve ajudar o aluno a apropriar-se da cultura de sua época levando em conta cada etapa de formação do desenvolvimento e de compreensão, e a divulgação da cultura em várias áreas diferentes, propicia um desenvolvimento mais completo e integrado das várias aptidões. E deve para isso, considerar a criança e a sociedade indissociáveis.
As principais influências de Wallon vêm no sentido de considerar tanto professor quanto aluno pessoas completas, com afeto, cognição, e movimento e em relação um com o outro, e também considerar o professor como elemento privilegiado do meio de seus alunos, com responsabilidade de torná-los mais propícios ao desenvolvimento.

Vogotsky

            Marta Kohl para estudar a repercussão da teoria vigotskyana na pedagogia propõe a abordagem por três grandes pontos principais da obra, sem deixar de ressaltar que a teoria não implica diretamente na ação, mas sim na reflexão a respeito da educação.
            O primeiro trata-se do desenvolvimento psicológico ser encarado de um ponto de vista prospectivo, e não como pensava-se convencionalmente no desenvolvimento já adquirido pelo indivíduo, algo que ele já possui. Vigotsky que entender o que é novo nessa trajetória, seu desenvolvimento e não o que já está desenvolvido. Assim, estabelece a zona de desenvolvimento proximal, que são os processos embrionários presente no indivíduo, mas ainda não consolidaram-se. O professor tem o papel de interferir nessa zona de desenvolvimento proximal de seus alunos para provocar o avanço que não ocorreria espontaneamente, ou seja, sem mediação.
            O segundo aspecto é o que diz que os processos de aprendizado que movimentam os processos de desenvolvimento. Basicamente, diz respeito ao processo de desenvolvimento do ser humano não ser apenas biológica, mas também dependente de questões psicológicas, onde o aprendizado que possibilita a ativação de processos internos que levam ao desenvolvimento e que são propiciados pelo contato do indivíduo com seu ambiente cultural. E o aprendizado está relacionado ao desenvolvimento desde o início de nossas vidas. Ou seja, é um desenvolvimento de dentro para fora. E a cultura é o aspecto que marca esse aprendizado estando sempre presente.
            Tudo isso faz-se muito presente no conceito de ensino escolar, onde a escola tem papel na promoção do desenvolvimento psicológico dos indivíduos que vivem em sociedades letradas, ou seja, é uma instituição que serva à nossa cultura e com isso utilizasse do aprendizado para levar ao desenvolvimento dos alunos.
            Já o terceiro aspecto é o que possui uma relevância particular para a educação, pois trata da atuação dos outros membros do grupo cultural, o que é essencial na mediação entre a cultura e os indivíduos e na interpretação dos aspectos culturais que serão posteriormente internalizados. E o mais interessante é que após ocorrer essa interpretação seguida da interiorização, ele pode compartilhar isso novamente com os outros membros do grupo por meio de símbolos que ambos entendem.
            O papel da mediação faz-se crucial, pois o mero contato com o objeto não garante a aprendizagem. Na escola o aprendizado já se apresenta especificamente com o objetivo de conduzir a um determinado desenvolvimento e a intervenção se faz um processo pedagógico privilegiado, com o papel do professor como central.
            Portanto, essa teoria deve vir para colocar os processos pedagógicos como intencionais, deliberados e dirigidos à construção de seres psicológicos membros de uma cultura específica e que determina parâmetros.
            Devemos ver os mecanismos de desenvolvimento e os processos de aprendizado que os conduzem como essenciais para a emergência de características psicológicas tipicamente humanas e que superam a programação biológica da espécie.
            Então, surge como fundamental na teoria de Vigotsky a escrita como elemento cultural fundamental com função mediadora entre o sujeito e o objeto de conhecimento e que amplia a capacidade humana de registro, de memória e de comunicação.
            O autor também trabalha com a idéia de reconstrução, reelaboração por parte do indivíduo, dos significados que o indivíduo recebe por meio da cultura, mas não passivamente, sempre deixando atuar a sua subjetividade, aspecto fundamental para ser negligenciado nas práticas pedagógicas.

Fernanda C. S. Ramos (102242)

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