terça-feira, 7 de junho de 2011

Algumas considerações sobre os seminários apresentados




(Adriana Partimpim - Saiba - Videoclipe oficial)


Nesta semana, tivemos a apresentação dos grupos das atividades práticas acerca dos temas: Arte, Imaginação/ Criatividade e Brinquedo. Discutimos questões que foram nessa direção e alguns outros temas se entrelaçaram, como por exemplo, a questão do corpo que "fala" dentro e fora da escola.

Nessa perspectiva da "pessoa completa" de Wallon, chamamos a atenção para o fato de que o pensamento e a afetividade estão também relacionados ao desenvolvimento motor, num conjunto indissociável, daí a importância dos profissionais que trabalham com o corpo na escola (um espaço onde, tradicionalmente, isso fica deixado a um segundo plano, posto que o desenvolvimento do intelecto tem a supremacia).
Assim, gostaria de deixar um excerto a esse respeito e tb uma indicação bibliográfica, para os interessados na área:

"O corpo humano é o corpo que sente, percebe, fala, chama a atenção para o corpo que somos e vivemos. O corpo é presença concreta no mundo, porque veicula gestos, expressões e comportamentos das ações individuais e coletivas de um grupo, comunidade ou sociedade. Assim, vivemos um contexto histórico que busca fazer dos corpos máquinas de competição, voltadas para o lucro de uma sociedade pragmatista. Precisamos fazer do corpo um elemento de resistência, que nos liberte do negativismo e do pragmatismo. Um corpo que nos coloque frente à nossa realidade, confrontando-nos com problemas e situações. Um corpo que nos coloque no mundo e que seja capaz de 'aventurar-se' para vivenciarmos novas e impensadas perspectivas para a vida."
(GALLO, Silvio. Corpo. In: Ética e cidadania: caminhos da filosofia. Campinas: Papirus, 1997).

Ainda vivemos apenas a preocupação social com o estético (e consequentes questões de consumo) e estamos longe dessa concepção apontada, dentro e fora da escola.

Acrescento aqui um outro aspecto a se salientar, em relação ao tema Brinquedo, nesse bojo da "pessoa completa" e do que representa o corpo nesse âmbito (um corpo que brinca, que se relaciona com o outro e que pode ser ele próprio o brinquedo): para Vygotsky, o brinquedo é tão fundamental para o desenvolvimento infantil, em todos os aspectos, que diz:

"A ação na esfera imaginativa, numa situação imaginária, a criação de intenções voluntárias e a formação dos planos da vida real e motivações volitivas - tudo aparece no brinquedo, que se constitui, assim, no mais alto nível do desenvolvimento infantil. A criança desenvolve-se, essencialmente, através da atividade do brinquedo" (VYGOTSKY, 1988, p.117/ A formação social da mente).

Para Leontiev também, a atividade lúdica é a principal atividade da criança, inserida nas condições histórico-culturais da contemporaneidade. Para esse autor, os motivos (aquilo que impulsiona para a atividade) no brincar estão no próprio processo, e não no produto da atividade.
Nesse âmbito, Vygotsky acrescenta que a criança não tem consciência das motivações do brinquedo, e esta é a diferença entre brinquedo, trabalho e outras atividades, onde mesmo que não haja compreensão de todo o processo, o indivíduo atenta às operações necessárias e está orientado para o resultado.

Em suma, conceber a atividade lúdica como zona de desenvolvimento proximal por excelência, como Vygotsky concebe, e como atividade principal da criança (Leontiev), significa apontar para o impacto que ela tem sobre o processo de constituição do sujeito, portanto.

Discutimos também, ligeiramente, como o "objeto-brinquedo" motiva a criança, constituindo-se num artefato cultural genuíno, possibilitando a entrada da criança no mundo simbólico, através das mediações dos outros (da linguagem, etc.), que vão fazendo com que se desenvolva e se "refine" na criança a capacidade lúdica.


Para não me estender, gostaria de indicar uma leitura muito interessante, onde a autora traz vários elementos sobre o brincar nessa perspectiva histórico-cultural e aponta, entre outros aspectos, para a diferenciação dos processos psicológicos desenvolvidos através dos jogos de regras e nos jogos de faz-de conta. Trata-se do livro Não brinco mais: a (des) construção do brincar no cotidiano educacional, de Maria Sílvia Pinto M. L. Rocha (Ed. Unijuí, 2005).


Uma outra dica sobre o brincar e a questão sócio-cultural é o documentário A invenção da infância (Brasil, 2000, direção de Liliana Sulzbac). Aliás, imperdível!

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