terça-feira, 21 de junho de 2011

A produção social da identidade e da diferença (Tomaz Tadeu da Silva): Pontos importantes para nosso seminário

     
     O Multiculturalismo e a diferença são questões centrais na teoria educacional crítica e nas pedagogias oficiais. Mas o que causa estranheza nessas discussões é, entretanto, a ausência de uma teoria da identidade e da diferença.

   Na perspectiva da diversidade, a diferença e a identidade tendem a sernaturalizadas, cristalizadas, essencializadas. A identidade é simplesmente aquilo que se é e só tem como referência a si própria: ela é autocontida e auto-suficiente.

     “A afirmação ‘sou brasileiro’, na verdade, é parte de uma extensa cadeia de ‘negações’, de expressões negativas de identidade, de diferenças”. Assim como a identidade depende da diferença, a diferença depende da identidade. “Identidade e diferença são inseparáveis”.

       Na perspectiva de Silva, identidade e diferença são mutuamente determinadas: a diferença que vem em primeiro lugar. Ela não é “resultado de um processo, mas o próprio processo mesmo pelo qual tanto a identidade quanto a diferença (compreendida, aqui, como resultado) são produzidas”. A origem seria a diferença - ato ou processo de diferenciação. Por isso, identidade e diferença partilham uma importante característica: elas são o resultado de atos de criação lingüística.

        A identidade e a diferença são criações do mundo cultural e social (são criadas por meio de atos de linguagem): apenas por meio de atos de fala que instituímos a identidade e a diferença como tais (e uma das características do signo é que ele seja repetível). Definir nossa identidade, por exemplo, significa utilizar-se de atos lingüísticos já institucionalizados para nos “dizermos” diferentes.

        “Segundo o linguista suíço Ferdinand de Saussure, a linguagem é, fundamentalmente, um sistema de diferenças” (um signo é tudo aquilo que os outros não são). Para ele, se um signo for considerado isoladamente, não tem nenhum valor. Ele só é signo devido às diferenças que estabelece com os outros signos (“a língua não passa de um sistema de diferenças”).

          Então, não se pode compreender a identidade e a diferença “fora” dos sistemas de significação em que elas adquiriram sentido, pois não são seres “naturais”, mas culturais e do sistema simbólico pelas quais são compostas (“quem tem o poder de representar tem o poder de definir e determinar a identidade”).

      A mesmidade (ou a identidade) porta sempre o traço da outridade (ou da diferença) (“a identidade e a diferença são o resultado de um processo de produção simbólica e discursiva). A identidade e a diferença estão estreitamente ligadas a sistemas de significação.

   "Comunidades Imaginadas” (Benedict Anderson): identidades nacionais “inventadas”, “imaginadas”, e a língua é um dos elementos centrais nesse processo.

            A identidade e a diferença têm a ver com a atribuição de sentido ao mundo social e com disputa e luta em torno dessa atribuição”.

            Como a identidade e a diferença são produzidas? Quais são os mecanismos e as instituições que estão ativamente envolvidos na criação da identidade e de sua fixação?


"Respeitar a diferença não pode significar "deixar que o outro seja como eu sou" ou "deixar que o outro seja diferente de mim como eu sou diferente (do outro)", mas deixar que o outro seja como eu não sou, deixar que ele seja esse outro que não pode ser eu, que eu não posso ser, que não pode ser um (outro) eu; significa deixar que o outro seja diferente, deixar ser uma diferença que não seja, em absoluto, diferença entre duas identidades, mas diferença da identidade, deixar ser uma outridade que não é outra "relativamente a mim" ou "relativamente ao mesmo", mas que é absolutamente diferente, sem relação alguma com a identidade ou com a mesmidade (Pardo, 1996, p. 154)".


Referência Bibliográfica:

SILVA, T.T.S. (org.) Identidade e Diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000a.

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