quarta-feira, 20 de abril de 2011

Análise Crítica - S2 - Wygotsky: Formação Social e Desenvolvimento Humano

Cristhiane Falchetti


Em meio às discordâncias teóricas de sua época, Vygotsky procurou estabelecer uma abordagem abrangente que possibilitasse a descrição e a explicação das funções psicológicas superiores (COLE e SCRIBNER, 1991)[1].

(...) ele foi o primeiro psicólogo moderno a sugerir os mecanismos pelos quais a cultura torna-se parte da natureza de cada pessoa. Ao insistir em que as funções psicológicas são um produto da atividade cerebral, tornou-se um dos primeiros defensores da associação da psicologia cognitiva experimental com a neurologia e a fisiologia. Finalmente, ao propor que tudo isso deveria ser entendido à luz da teoria marxista da história da sociedade humana, lançou as bases para uma ciência comportamental unificada. (op.cit., p.7)

De acordo com Vygotsky (2009)[2] a atividade humana segue dois impulsos: um reprodutor (que repete ou reproduz o que já foi criado anteriormente e mantenedora de experiências passadas) e outro, criador (a capacidade de criar ou reelaborar a partir de elementos da experiência passada, o que garante a readaptação do ser humano ao meio). A imaginação é a base de toda a atividade criadora e manifesta-se em todos os aspectos da vida cultural. Para Vygotsky et al (1998)[3], desenvolvimento e aprendizagem são processos inseparáveis, que estão em dialética. Essa reciprocidade se dá do nível social para o nível individual. São as relações reais entre os indivíduos que proporcionam o desenvolvimento superior. Nesse sentido, a linguagem seria fundamental, pois é por meio desta que os indivíduos interagem (se comunicam) e se apropriam do conhecimento. A aquisição da linguagem altera as funções mentais superiores das crianças, reorganizando e sistematizando suas experiências de modo a aperfeiçoar o desenvolvimento cognitivo.
Desse modo, a experiência social constrói o desenvolvimento individual e psicológico. “Vygotsky acreditava que a internalização dos sistemas de signos produzidos culturalmente provoca transformações comportamentais e estabelece um elo de ligação entre as formas iniciais e tardias do desenvolvimento individual” (COLE e SCRIBNER, 1991). Assim, o mecanismo de mudança individual ao longo do desenvolvimento tem sua raiz na sociedade e na cultura.
A contribuição de Vygotsky à pedagogia está no enfoque humano e social do processo de desenvolvimento individual, ou seja, naquele aspecto em que o homem pode agir e coordenar o processo de desenvolvimento. Por isso, não se pode crer que o desenvolvimento de uma criança vá ocorrer, apenas, por meio da interação dela com outro ser humano ou objeto. Os outros seres humanos, os objetos, tudo é identificado pela criança não como o que são objetivamente, mas pelos seus significados. O momento histórico presente, o que ele carrega do passado, as antinomias atuais, tudo se insere no sistema lingüístico e, a partir dele, se imiscui em cada significado, aparecendo à consciência da criança em desenvolvimento durante o processo de aprendizagem. Esse processo é, pois, profundamente humano, e não natural ou espontâneo.


Referências

COLE, Michael; SCRIBNER, Sylvia. Introdução. In: A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 2002. p. 1-22.

LEONTIEV, A. N.; LURIA, A. R; VIGOTSKY, L. S. Linguagem, Desenvolvimento e Aprendizagem. Ícone: São Paulo, 2001, p. 21-37.

VALSINER, J.; VAN Der VEER, R. Vygotsky: uma síntese. São Paulo: Loyola, 1996, p. 17-30.

VIGOTSKY, L. S. Cap. 1 (Arte e imaginação). In: La imaginación y el arte em la infância. Madri: Akal, 2009, p. 1-4.



[1] COLE; SCRIBNER. In: VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. São Paulo, Martins Fontes, 1991
[2] VIGOTSKY, L, S. La imaginación y el arte em la infância. Madrid: Espanha. Ed. Akal, 2009.
[3] VIGOTSKY, L, S; LURIA, A, R; LEONTIEV, A, N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone/EDUSP, 1998.

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