domingo, 24 de abril de 2011

Análise Crítica – S3 e S4 – Wygotsky: Desenvolvimento e Aprendizagem

Cristhiane Falchetti

Um dos aspectos mais importantes da teoria de Wygotsky sobre o funcionamento psicológico é o conceito de mediação, a qual diz respeito ao processo de desenvolvimento e aprendizado, em que os signos seriam elementos de mediação no processo de aprendizado. De modo geral, os signos são representações da realidade, que auxiliam na interpretação desta.
A noção de mediação na teoria de Wygotsky tem sua base na teoria marxiana, na qual a mediação entre o homem e natureza se dá, de forma deliberada, por meio dos instrumentos de trabalho. É essa capacidade de mediação, e a consciência dela, que caracteriza a atividade essencialmente humana e o processo histórico-social. Assim, por meio da noção de signos, Wygotsky transporta a ideia de mediação de Marx para o campo psicológico.
Minha questão consiste em explorar uma possível relação entre o processo de interiorização, descrito por Wygotsky como a capacidade de mediação interna (feita na ausência de representação concreta), e o processo de trabalho humano, caracterizado por Marx como a capacidade essencialmente humana de conceber o seu trabalho (objeto do trabalho) antes mesmo de tê-lo realizado (produzido).
Relacionando as duas proposições é possível estabelecer uma relação dialética entre o processo de trabalho (intervenção no meio externo) e o processo de interiorização (desenvolvimento cognitivo interno). Ao interagir com o meio externo (natureza), o Homem o transforma e, ao fazer isso, transforma a si mesmo. Essa interação deliberada com o meio externo só é possível porque o Homem tem a capacidade de pensar em objetos ausentes e assim planejar suas ações, exercendo atividades de criação. Mas a atividade criadora, ainda que se faça na ausência dos objetos concretos, depende de conhecimentos adquiridos em experiências anteriores próprias ou histórico-social. Assim, ao mesmo tempo em que a representação mental fornece um suporte (planejar, comparar, conceber, lembrar) para a ação concreta do homem no mundo exterior; a construção dos sistemas simbólicos depende dessa ação concreta, a qual servirá de base (matéria) para os conceitos mentais. Não pode haver mediação interna se não houver representações mentais, e estas derivam da realidade exterior.
            Portanto, a mediação por meio dos signos internalizados liberta o homem da necessidade de interação concreta com os objetos de seu pensamento, mas não a substitui em definitivo, pois necessita dela para constituir-se. E tudo o que aprendemos de modo teórico, sem a necessidade de interação concreta, é uma abstração que deriva da experiência humana acumulada, daí a importância do processo histórico-social e a necessidade de que esse conhecimento acumulado seja ensinado na escola. Da mesma forma, as práticas pedagógicas interativas são fundamentais para a construção individual do sistema de representação e para o desenvolvimento do processo de internalização.

Referências Bibliográficas
VIGOTSKI, L. S. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 2007. (Cap.3 e 4)
MARX, K. – O Capital. Rio de Janeiro : Civilização Brasileira, 1970. V. I (Livro 1, Cap.5)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.