segunda-feira, 20 de junho de 2011

Análise Crítica S9 - "Implicações Educacionais"

GUSTAVO RAFAEL BIANCHI AZEVEDO FERREIRA - RA: 093845

Marta K. de Oliveira, em seu artigo O pensamento de Vygotsky como fonte de reflexão sobre a educação, debate três idéias de Vygotsky que ela considera mais relevantes para a prática pedagógica. Antes de apresentá-las, no entanto, M. de Oliveira adentra a discussão entre prática e teoria, que segundo ela “é uma constante na área de educação” (OLIVEIRA, p. 12). Pois de fato a pedagogia, quando pensa suas práticas, freqüentemente se baseia em teorias de outras áreas, como a psicologia, as ciências sociais, a filosofia. Uma das dificuldades que essa disciplina enfrenta, portanto, é que esse “desejo dos educadores de extrair das teorias um ‘como fazer’ eficiente (...) parece inadequado ao pesquisador” (OLIVEIRA, p. 12) que formula as teorias. Mas as idéias de Vygotsky que o artigo se propõe a debater já foram pensadas com certa preocupação por parte dele com a educação, de modo que a busca de implicações educacionais nessas idéias é um pouco menos complicado.

            Atentaremos aqui apenas à segunda dessas idéias, porque ela é a que parece possuir implicações mais sérias para a escola e para o professor. É a idéia “de que os processos de aprendizado movimentam os processos de desenvolvimento”. Vejamos balbal:

“(...) é o aprendizado que possibilita o despertar de processos internos de desenvolvimento que, se não fosse o contato do indivíduo com um determinado ambiente cultural, não ocorreriam. (...) o aprendizado está relacionado ao desenvolvimento desde o início da vida humana, sendo ‘um aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas’ (Vygotsky, 1984). (...). A trajetória do desenvolvimento humano se dá, portanto, ‘de fora pra dentro’ (...).” (OLIVEIRA, p. 12).

Em outras palavras, todas as funções psicológicas organizadas socialmente, como a alfabetização, só podem ser internalizadas mediante a intervenção de outros membros da sociedade. Nenhuma criança pode aprender a ler e a escrever apenas por estar em contato com essas funções (ao contrário da fala). Uma vez dominadas, contudo, essas habilidades abrem uma infinidade de possibilidades e direções para o indivíduo avançar no aprendizado (inclusive de fórmula anônima).

Ora, as implicações educacionais dessa formulação teórica são gigantes. A escola e o professor, enquanto meios dispostos pela própria sociedade para a transmissão do sistema simbólico - a escrita - que essa sociedade construiu para si, se tornam importantíssimos uma vez que esse sistema não pode ser adquirido espontaneamente pela criança. Para desenvolver o domínio de tal sistema a criança precisa de uma mediação intencional.

Gostaria de acrescentar apenas que a educação universitária em geral assume que esse desenvolvimento já ocorreu e foi satisfatório. Isso implica que certas habilidades não internalizadas pelo indivíduo antes do seu ingresso na universidade não serão fornecidas “intencionalmente” por esta, de modo que a escola não é apenas o principal veículo institucionalizado de certas habilidades, mas o único.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.