segunda-feira, 16 de maio de 2011

Análise Crítica: S5 e S6 – Wygotsky: a fala como elemento essencialmente humano e social

Cristhiane Falchetti

Uma dos pontos mais explícitos da divergência entre as teorias de Wigotssky e Piaget encontra-se na questão da “fala egocêntrica”[1], denominação atribuída por Piaget. Discutida por Wygotsky em sua obra, essa questão revela as diferentes abordagens de cada autor ao refletir sobre o processo de desenvolvimento humano.

Piaget considera a fala egocêntrica como uma fase genética intermediária entre o pensamento autístico (não-verbal, individualista e primitiva) e o pensamento lógico racional (discurso socializado, dirigido e desenvolvido). Essa fase egocêntrica seria impenetrável pela experiência externa, e a fala não se destina à comunicação e interação com o outro. A fala egocêntrica não teria nenhuma função no comportamento da criança e desaparece na fase escolar. Deste modo, na abordagem de Piaget, o desenvolvimento observado externamente parece resultar de etapas internas do desenvolvimento biológico.

Para Wygotsky, a “fala egocêntrica” é parte do processo que constitui a relação entre pensamento e linguagem e, desde o princípio, ela cumpre uma função na atividade infantil, seja para ajudar a resolver um problema ou para aliviar a tensão. A “fala egocêntrica” é um estágio transitório entre a “fala oral” e “fala interior” (o pensar para si mesmo), de modo que ela não desaparece simplesmente, mas é interiorizada e continua desempenhando a mesma função da “fala egocêntrica”. Tanto em uma situação quanto em outra, a função primordial da fala é a comunicação social, sendo que “a fala mais primitiva da criança é, portanto, essencialmente social” (WYGOTSKY, 1991, p.23). Portanto, para Wygotsky, o desenvolvimento é estimulado pelo mundo exterior e pelas relações sociais.

A nosso ver, as considerações de Wygotsky a respeito da teoria de Piaget possibilitam um salto teórico na interpretação do desenvolvimento humano e sua relação com a linguagem, o qual tem grande repercussão para as práticas educativas, inclusive, atribuindo-lhes maior importância.  Uma vez que se reconhece o papel das relações externas e da comunicação social na fase pré-escolar, é possível orientar e estimular esse desenvolvimento desde a fase “egocêntrica”. Fica explícita também a importância da interação social das crianças ainda nesta fase, estimulando a vinculação dos processos de pensamento e linguagem que lhes permite o salto qualitativo no desenvolvimento humano.

      Por fim, se a razão da fala é a comunicação e ela é essencial para o desenvolvimento genuinamente humano, está reafirmada a importância do social no desenvolvimento humano individual.


Referências Bibliográficas

 OLIVEIRA, M.K. Wygotsky: Aprendizado e Desenvolvimento: um processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 1997.

PIAGET, J. O pensamento e a linguagem na criança. São Paulo:Martins Fontes, 1999.

WYGOTSKY, L.S. Pensamento e Linguagem. 3ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.



[1] “fala egocêntrica” é o discurso da criança quando ela dialoga alto consigo mesma, “fala sozinha”. Isso ocorre por volta de três ou quatro anos de idade, e apresenta-se de forma desarticulada. (OLIVEIRA, 1997, p.52)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.