segunda-feira, 30 de maio de 2011

Análise Crítica S7 e S8 - Afetividade: as contribuições da psicologia à prática pedagógica

Cristhiane A. Falchetti

É amplo o campo de contato entre a psicologia e a pedagogia. Um dado psicológico importante a ser levado em consideração pelos pedagogos é a dimensão afetiva na relação entre professor e aluno, a qual é discutida por Leite (2006). As preocupações de Wallon com a definição da Psicologia como campo de interface entre o orgânico e o psíquico, o espírito e a matéria, e sua percepção de que o desenvolvimento infantil deve ser compreendido a partir da totalidade da vida (Galvão, 1995) revelam um campo de possibilidades para Pedagogia a partir da Psicologia.
Em Wallon, as dimensões cognitiva e emocional apresentam-se conjuntamente no processo de desenvolvimento, sendo que a “predominância funcional” de uma ou outra é alternada entre, de um lado, a elaboração do real e o conhecimento do mundo físico e, de outro, a construção do “eu”. Wygotsky defende que as emoções deslocam-se de um plano biológico para um simbólico, que caracteriza as funções superiores constituídas pela cultura.
Leite (2006) propõe que se rompa com a dualidade cartesiana entre corpo e alma e ressalta a dimensão afetiva nas práticas pedagógicas, sendo estas parte significativa do processo de constituição dos sujeitos. Segundo o autor,

(...) a afetividade envolve as vivências e as formas de expressão mais complexas e humanas, apresentando um salto qualitativo a partir da apropriação dos sistemas simbólicos, em especial a fala – o que possibilita a transformação da emoção em sentimentos e sua representação no plano interno, passando a interferir na atividade cognitiva e possibilitando seu avanço.(LEITE,2006, p.21)

Assim, as experiências afetivas vivenciadas pelo indivíduo desde o início de sua vida, principalmente nas relações familiares e escolares, terão influência decisiva sobre a constituição do sujeito e sua capacidade de lidar tanto com o conhecimento intelectual quanto com as experiências na vida adulta. A própria biografia de Wallon parece corroborar essa tese, pois, como relata Galvão (1995), a sua relação familiar durante a infância foi marcante para a trajetória que ele viria a seguir.
Segundo Leite (2006), as pesquisas evidenciam que as práticas pedagógicas que possibilitaram o sucesso na aprendizagem escolar contribuíram para a constituição de sujeitos afetivamente seguros e, portanto, mais preparados para relacionar-se com o mundo. O autor argumenta que, além da relação tête-à-tête entre professor e aluno, todas as decisões pedagógicas tomadas pelo professor afetam o aluno tanto no nível afetivo quanto cognitivo e, portanto, no seu processo de aprendizagem. Nesse sentido, todo o planejamento pedagógico das aulas, desde o conteúdo selecionado, o ponto de partida, a organização dos conteúdos, os procedimentos de ensino e a avaliação, deve reconhecer a dimensão afetiva da relação entre professor e aluno, que está associada ao processo de aprendizagem.
Tratar das relações afetivas no processo de aprendizado é entender o aluno como sujeito ativo, cuja forma de compreender o mundo será marcada pelas experiências emocionais positivas e negativas. Nesse sentido, lidar com os sentimentos do aluno para auxiliá-lo a se relacionar não só com os novos conhecimentos, mas também com as novas experiências sociais é uma estratégia inteligente. A questão, na verdade, é como lidar com esses sentimentos, já que a variedade dos alunos tende a produzir uma multiplicidade de interpretações sobre uma mesma atitude do professor.


Referências Bibliográficas

LEITE, Sergio Antônio da Silva. Afetividade e práticas pedagógicas. In: LEITE, S.A.S. (Org) Atividades e Práticas Pedagógicas. São Paulo: Casa do Psicológo, 2006.

GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.

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