domingo, 15 de maio de 2011

Pensamento e linguagem - S5 e 6


Paulo Ferreira Junior RA 089961
Um ponto a ser frisado nos estudos sobre o desenvolvimento do pensamento e da linguagem em Vygotsky, é que, embora o desenvolvimento de ambos estejam intimamente relacionados, eles tem raízes genéticas diferentes. Segundo nosso autor (p. 51), essa diferença pode ser constatada tanto do ponto de vista filogênico quanto do ponto de vista ontogênico.
Uma situação recorrente como exemplo é o uso dos instrumentos na relação com a natureza. Por exemplo, os macacos até podem fazer o uso de instrumentos para situações imediatas que evidenciam um certo nível intelectual; entretanto, uma vez fora da situação que exige o uso, o macaco não pode dispor desse diferencial. Já a interação entre o homem e a natureza não se dá apenas por mediadores externos e imediatos, mas, sobretudo, por mediadores internos; ou seja, é pela criação de uma “ordem simbólica” que nasce a história e a cultura.
Nesse sentido, uma hipótese plausível para compreender o abismo que separa homens e macacos é a grande limitação que estes tem no uso de signos na atividade minemonica. Nesse tocante, para Vygotsky (p. 61), na filogenia do pensamento e da linguagem constata-se uma fase pré-intelectual no desenvolvimento da linguagem e uma fase pré-linguística no desenvolvimento do pensamento.
O mesmo ocorre na perspectiva ontogênica. Nota-se, por exemplo, nas crianças três momentos no desenvolvimento psicológico. O primeiro se caracteriza por evidenciar uma espécie de inteligencia prática e uma linguagem mais emocional. Num segundo momento, no desenvolvimento da linguagem, nota-se o surgimento da fala egocêntrica que, no desenvolvimento intelectual, opera como auxiliar externo nas atividades do pensamento. Já num terceiro momento, a fala egocêntrica é internalizada e desenvolve-se o pensamento verbal. Nesse estágio, as operações do pensamento se desenvolvem mais pela apreensão das relações lógicas do que pela memória emocional. Nesse ponto, notamos bem a diferença entre a teoria de Vygotsky e a de Piaget. Para o autor suíço, a fala egocêntrica desaparecia com o desenvolvimento da memória lógica nas atividades mentais, para o autor bielorrusso, como vimos, a fala egocêntrica não desaparece com o reconhecimento da lógica enquanto instrumento mental, mas é apenas internalizada.
Em suma, embora o pensamento e a linguagem por vezes se confundam, eles não são uma e a mesma coisa. O pensamento, de certa forma, antecede a linguagem, porém a possibilidade de seu desenvolvimento pleno depende da internalização dos signos. Sem dúvida, a perspectiva histórico-cultural lança uma luz sobre a palavra grega logos, um termo ambíguo e obscuro tão caro a filosofia desde a antiguidade clássica até nossos dias.
Bibliografia
Vygotsky, L. Pensamento e linguagem. Tradução de M. Resende. Lisboa: Edições Antídoto, 1970.

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