terça-feira, 24 de maio de 2011

Motivação em Vigotski 5 - Atividades Práticas (Bruno)

Nome: Bruno Naomassa Hayashi                        RA: 072866

Retomando a discussão sobre as atividades práticas vejamos agora um pouco mais do papel do professor. As possibilidades de ação, para o sucesso ou fracasso, do docente são quase infinitas e dependem não só dele (suas características, aptidões e conteúdos), mas também de qual é o objeto da aula, quais são os materiais de apoio e, principalmente, quais são as características, representações, histórias, etc. de cada aluno e como eles juntos formam um todo integrado, denominado aqui livremente de "turma", que é, como massa disforme e fluida, o interlocutor privilegiado do professor.

Sobre as características mais gerais de uma "turma" no colégio técnico pudemos ver um pouco na postagem anterior. Já as características específicas da turma 3º informática só pôde (e só poderá) ser vista em sua dinâmica com o professor de sociologia, na aula de sociologia e com relação ao seus conteúdos. Como se viu, na aula em que faço estágio, a turma é bastante motivada e parece gostar da matéria - aliás, vale aqui dizer que é perceptível que, em contrapartida, também o professor parece gostar de sua atividade e já me declarou gostar muito da turma. Olhando especificamente para a sala de aula (deixando de lado um pouco os fatores "externos"), isso se deve em grande parte à harmonia que existe entre o docente e a turma. Ele como qualquer professor tem suas características gerais de dar aula (cada um com um grau maior ou menor de flexibilidade), que acaba definindo "turmas ideais" - ou seja, turmas cujas características específicas de apropriação de conteúdos se adquam àquelas características de dar aula - como se ambos falassem a mesma língua e, portanto, entedessem um ao outro. A turma que analiso se encaixa muito bem à dinâmica do professor de sociologia (sendo próxima então a sua turma ideal) - ou senão, o professor é que adequou bem sua aula à dinâmica da turma - ou ainda ambas se ajustaram uma a outra. Fato é que acabou ocorrendo essencialmente essa harmonia. Para isso pode ter contribuído, além do que veremos a seguir, também o fato de que pelo menos desde o 2º ano eles mantém essa relação.

Nos slides (material de apoio), o professor apresenta a linha condutora da aula, mas mais do que apenas transmitir conteúdos através desses slides, o professor espera (e usa bonificações para isso) que os alunos participem da aula, façam perguntas e dêem soluções. A turma responde bem a essa dinâmica, acontecendo em alguns momentos de dois ou mais alunos levantarem as mãos, e é importante frisar que fazem isso não como ação exterior, mas pelo interesse ao debate. É assim que as perguntas chegavam à discussão que tratamos no final do post anterior. A linguagem usada pelo professor, sua gesticulação e tom de voz, trasmitem confiança e convicção sobre aquilo que é falado, o que aparentemente tem forte efeito retórico sobre os alunos. Está presente uma razoável relação afetiva com a "turma" - um episodio exemplar: no dia 13 de maio, um aluno foi censurado por não estar fazendo anotações, ao final da aula, esse aluno procurou de forma comovida (mas não dramatica) explicar que ele estava atento a aula e não copiava por estar ouvindo ao professor; enfim pelo menos por parte desse aluno, existe uma necessidade de reconhecimento do professor. E de fato o professor procura cultivar esse tipo de relação de reconhecimento, elogiando sistematicamente os alunos, chamando eles pelo nome e, usando outro exemplo, ao ouvir uma pergunta que não o agradou de todo certa vez, ele disse algo como: "não é nada contra você, eu te conheço bem, sei que você é competente, mas isso que você falou é coisa de [revista] Veja!". Em contrapartida, para manter sua autoridade, ele é certamente rigoroso, não deixando de anotar faltas (como todo professor), celulares em sala de aula (interrompeu a aula, anotou o nome do culpado, e disse não tolerar uma segunda vez), chamando a atenção para atrasos e reprimindo algumas raras conversas paralelas

É, enfim, na relação dialética entre todos esses vários fatores, tanto dentro como fora da sala de aula, que, a meu ver, se pode explicar a motivação desses alunos para as aulas de sociolgia - considerar apenas um deles isoladamente incorreria em um grave reducionismo - caberia talvez uma sistematização e identificação dos fatores mais determinantes mas, pelo pouco tempo, não as realizarei nesse blog. Para além de tudo que foi dito, se, por exemplo, o vestibulinho e posteriormente o vestibular são fatores significativos para a motivação dos alunos em aprender os conteúdos das aulas em geral, fato é que ambos os exames não podem ser devidamente entendidos como significativos fora do contexto amplo da sociedade e a forma com que essa realiza a educação e, por que não, a reprodução social. De fato mais do que aprofundarmos nessa longa discussão sobre a educação dentro do todo, a minha intenção é apenas tentar mostrar aqui que por mais minunciosa que uma observação dentro de uma sala de aula ou mesmo de uma escola seja, ela apenas será capaz de mostrar algumas relações importantes - mas não todas as relações essenciais, que determinem (no nosso caso) o fator motivacional. Como bem cabe a uma tentativa de análise vigotskiana é o ponto de vista da totalidade que deve orientar uma investigação científica de um aspecto aparentemente tão só intrapsicológico como a motivação - a julgar pela quantidade de palestras, livros e dinâmicas, das quais muitas, sem mudar essencialmente nada, tentam introduzir motivação nos ouvintes (em geral trabalhadores), esse reducionismo da motivação a algo interno a pessoa é uma crença bastante arraigada.

O próximo e último post (agradeço a paciência da professora e dos que leram até aqui ) será enfim a mesma análise da motivação, mas a partir de um outro ponto de vista, sobre outras condições totais.

3 comentários:

  1. Bruno, vc faz considerações muito interessantes. E será em relação ao que tratou acima que Vygotsky e Wallon consideraram que o pensamento tem origem na esfera da motivação (inclinações, impulsos, afetos, emoções, necessidades, interesses). De fato, estamos nesse ínterim, com questões multifacetadas colocadas em sala de aula.
    Heloísa

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  2. A questão que aponta tb sobre a motivação como pertencente, exclusivamente (ou quase), à esfera "intrapsíquica" merece toda a atenção, uma vez que se tornou, de fato, senso comum e precisa ser rediscutida.
    Aqui vale lembrar que Vygtsky utilizava o mesmo termo russo para se referir ao ensino e à aprendizagem (obuchenie).
    Bem lembrado, portanto!
    Heloísa

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