segunda-feira, 30 de maio de 2011

Motivação em Vigotski 6 - Atividades Práticas (Bruno)

Nome: Bruno Naoamassa Hayashi RA: 072866

Nessa última postagem apenas retomarei alguns pontos tocados quando da análise do colégio técnico, apresentando a nossa questão agora à luz da escola de formação normal na periferia de Campinas. Não tocarei muito profundamente a respeito das questões mais gerais dessa escola, já que não houve oportunidade para um apronfudamento nessa questão específica.

Com relação à turma em que faço o estágio, trata-se da última aula do período noturno da quinta-feira (22:10 às 22:45). De um ponto de vista geral, poderíamos deduzir que esse aspecto favorecerá altamente na desmotivação da turma e tendo em vista ainda que trata-se de uma turma de terceiro colegial com muitos já trabalhando ativamente durante o dia, temos outro fator que favorece ao menos o cansaço da turma, levando a desmotivação e no limite até mesmo a apatia. Mas se esse aspecto do período noturno é salientado pelo professor como significativos no interesse dos alunos pela aula de sociologia, não o é por qualquer falta de energia, pois, totalmente pelo contrário, a turma em geral é bastante agitada, cheia de energia e, portanto, nada apática, mesmo tendo trabalhado, mesmo estando próxima às 23 horas. Aliás, a impressão que dá depois dessa experiência é que as turmas na universidade é que são paradas demais. Parênteses a parte, o fato é que os alunos parecem ansiosos para irem embora, terminar seu compromisso com a escola, para poder descansar ou mesmo se divertir. É no mínimo essa ansiedade que explica certo desinteresse da turma em seu horario específico de aula.

Agora algumas especulações - já que também não foi possível fazer entrevistas, enquetes ou qualquer tipo de aprofundamento. Como muitos já trabalham a situação é totalmente diversa das duas análises anteriores. É de hipotetisar que muitos já cumprem certo papel financeiro dentro da família e ao final do ensino médio continuarão cumprindo ele - talvez com o diploma de 2º grau, indo para outras carreiras - e apenas em alguns casos poderão já seguir para o ensino superior. É falso, porém, dizer que o ensino superior esteja longe do horizonte desses alunos - na última aula, duas alunas fizeram perguntas a respeito do vestibular da unicamp e de disponibilidade de certos cursos. Enfim, com isso não se quer dizer muita coisa, senão que os aspectos que no mínimo forçavam o aluno a se debruçar e dominar os conteúdos, existem aqui de forma muito mais branda para esses alunos, e longe de isso ser explicável no nível da pessoa, é preciso levar em conta a situação maior, para além dos muros da escola.

Voltando para a aula, como se viu, ela é um tanto tumultuada e agitada - os alunos cheios de energia - circulam ora ou outra pela sala, conversam entre si, às vezes estando os interlocutores em pontos diferentes da sala, alguns ainda ouvem músicas, partidas de futebol, dançam, entre outras atividades de liberação de energia. O professor, na medida de seu pouco interesse com a repressão e a submissão dos alunos, procura chamar atenção dos alunos, pedindo silêncio, para que se sentem, que façam o exercício, etc. Algumas alunas, segundo o próprio professor, comentaram que ele é muito bonzinho ou que tem muita paciencia. A isso o nosso professor explicou que não se interessa em entrar nessa dinâmica de reprimir os alunos, ele procura que os próprios alunos se auto-organizem na medida do possível e percebe também que não há milagres a serem feitos - o que existem são alunos cheios de energia dentro de um espaço privilegiado de socialização (a escola), onde se sentem, em geral, a vontade, entre amigos, procurando chamar atenção (alguns dos quais não perdem oportunidades para engatar momentos de riso para a turma - o que de fato é o combustível que alimenta esse tipo de dinâmica). Esse, o grande mérito e defeito da turma, mérito porque talvez a escola como está organizado não consiga canalizar essa energia de forma que multiplique e potencialize a formação dos alunos - talvez a escola esteja demasiadamente estruturada para alunos mais calmos - sem tirar o mérito desse "tipo" de aluno.

As atividades que participei (a transmissão de um curta, um exercício acerca dele e a leitura de uma noticia acerca do tema do curta - contemplando 4 aulas de 45 minutos) mostram que os alunos não estão exatamente desmotivados - precisando se especificar algumas coisas. Eles gostam da escola, do espaço de socialização que ela implica, parecem se divertirem quando tem liberdade para tanto, como no caso da aula de sociologia. Mas o motivo da ação de estar na escola não se liga tanto aos conteúdos, às aulas, que continuam sendo importantes finalidades, rigorosamente executadas pelo professor e razoavelmente acompanhada pela turma (à turma, esse é pelo menos um motivo compreensível profundamente enraizado para estarem em sala de aula - eles sabem da importancia da escola), mas ainda assim o motivo real para cumprirem essa ação com certa satisfação é o já citado espaço - que ainda mais para trabalhadores de período integral ou diurno - acaba sendo de modo geral um dos poucos momentos no dia, senão na própria semana, em que os amigos se reúnem, paqueras podem se desenvolver, etc.

Não há, porém, um desprezo absoluto pela conteúdo - que como dito faz parte da obrigação e motivo compreensível de praticamente todos os alunos -, tive oportunidade de corrigir os exercícios de toda a sala com relação ao curta metragem, que constituía-se de questões mais sociológicas e políticas acerca do tema (corte de cana), além de outras mais matemáticas, que nos interstícios pareciam indicar uma forma de transmitissão concreta do conceito marxiano de mais-valia. Entre as conclusões gerais que a correção pôde mostrar fica que as respostas estavam praticamente todos bem escritos (no sentido, da legibilidade, coerencia nas frases, coesão, etc.), muitos, porém, simplesmente copiados um do outro - outros (diria mesmo a maioria) entregaram o questionário em grupo, ao passo que o exigido era individualmente - enfim, a conclusão mais interessante é que eles não se permitiram a simplesmente NÃO entregar o trabalho, de alguma forma - jeitinho, na definição creio que de Antonio Candido - eles cumpriram em parte sua obrigação como estudantes com seus deveres e metas, ainda que com os pés fincados na "desordem", mantendo-se a idéia de Candido (1993). Mas de fato, é de supor que muitos deles realmente escreveram as respostas, ou seja, elaboraram eles mesmos a solução às questões, e diria que não foram poucos - talvez nesse sentido o conteúdo tenha sido incorporado de forma mais significativa, havia menções de trechos do curta que eu nem havia notado - todavia, sem maiores ilusões, nenhum dos alunos aparentou estar extramamente motivado para enfrentar o questionário - o que também é quase natural.

Não pude, dentro desse curto período até o momento, perceber relações mais complexas dos alunos com a escola, com o professor, com o conteúdo de sociologia que fossem ecos de vivências externas à escola, análises, enfim, que fossem para além da generalização panorâmica feita sobre o fato de alguns alunos serem trabalhadores. As conclusões que ficaram acima (e também em todos os outros posts) foram apenas algumas impressões que ao menos tentaram fugir da superficialidade acerca do tema da motivação em Vigotski, ainda que tenha ficado devendo em vários pontos.

Bibliografia:

CANDIDO, Antonio. A dialética da Malandragem. In: O discurso e a cidade. São Paulo: Duas Cidades, 1993.

Um comentário:

  1. Suas considerações são muito pertinentes e cuidadosas, Bruno. De fato, para arriscar análises mais profundas, deveríamos propor uma pesquisa etnográfica (por ex.), como tem apontado.
    De qualquer modo, para os nossos fins, vc dialoga (nesses textos que apresenta) sobre a escola, os alunos, o professor, o entorno social próximo, a sociedade de modo geral, aspectos da cultura (intra e extra-escolar), enfim, sugere indícios preciosos para uma análise mais efetiva sobre o que deve pautar a interpretação do pesquisador a respeito da MOTIVAÇÃO ou a falta dela!
    Excelente trabalho.
    Heloísa

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