quarta-feira, 18 de maio de 2011

Resenha de Artigo para o Seminário em Grupo II

GUSTAVO RAFAEL BIANCHI AZEVEDO FERREIRA - RA: 093845
O artigo de Neusa Gusmão, Linguagem cultura e altelridade: imagens do outro, foca-se, de uma perspectiva antropológica e pedagógica, nos três conceitos que compõe o título, linguagem, cultura e alteridade. Sobre este último Gusmão diz: "É aqui que o debate da diferença, do outro e do mesmo colocam-se igualmente para a antropologia como ciência e para a pedagogia como prática. Em ambos os casos, todos nós enfrentamos o desafio de ter de inverter o olhar e compreender, como diz Larrosa, Lara, 'a imagem do outro não como a imagem que olhamos, mas como a imagem que nos olha e que nos interpela'".
Gusmão destaca o fato de que, na escola, apesar da tradição homogeneizante, há uma diversidade sócio-cultural que sempre entra em conflito. Essa diversidade não favorece a submissão ao poder, e por isso existe uma tradição homogeneizante na escola. Por causa dela, "educar tem sido o meio pelo qual o diferente deve ser transformado em igual para que se possa submeter, dominar e explorar em nome de um modelo cultural que se acredita natural, universal e humano".
A diversidade cultural no geral não é respeitada na medida em que se cultiva um modelo, o qual normalmente é o do homem ocidental, adulto, cristão e branco. A análise do material didático de uma escola dos EUA comprova justamente isso, segundo Gusmão, mostrando que nem todos são iguais e que há alguns melhores do que outros.
A cultura é um sistema simbólico baseado na realidade vivenciada pelo indivíduo. Mas graçasa ao contato com outros indivíduos, grupos e sociedades, a identidade desse indivíduo é sempre insegura. "O que se é e se acredita que seja, assenta-se numa base frágil e inconsistente, uma vez que as realidades sociais como as culturas não são nunca absolutas, substanciais." A forma como cada indivíduo absorve a cultura de seu meio pode ser diferente. Esse caráter subjetivo da cultura não pode ser perdido de vista. Tampouco pode ser deixado de lado o seu caráter histórico. "Assim, para o sujeito social, a cultura é e representa a experiência vital de seu tempo e de seu espaço em termos de si mesmo e do outro."
As crianças passam a infância principalmente na escola e na família. Ambos esses ambientes estão dentro de uma lógica institucional de "modelagem" da criança, ou seja, uma lógica que prescreve a todos um mesmo caminho, já descoberto. Mesmo na antropologia, na maioria das vezes a criança é tratada como desprovida de cultura, e a infância é tratada apenas enquanto caminho para a vida adulta. Apenas recentemente tem-se atentado à criança em si mesma. Busca-se agora o “outro” que ela representa, mas segundo Gusmão é preciso tomar cuidado para não esquecer que, além de um “outro”, a criança também é um "mesmo".
Como a linguagem, embora não esgote a cultura de um indivíduo ou sociedade, é sem dúvida essencial para compreendê-la, uma boa forma de estudar a cultura da criança é através de sua linguagem, de sua manifestação oral e escrita. Isso pode ser útil na investigação que o grupo está realizando na escola. Uma parte da entrevista poderia ser oral e a outra escrita, para avaliar as duas formas de manifestação lingüística.
Na pesquisa na qual esse artigo se baseia, também o desenho foi utilizado. Gusmão apresenta exemplos de desenhos e suas respectivas descrições por escrito, ambos feitos por crianças na escola, sobre a identidade delas mesmas, e também apresenta entrevistas feitas com crianças de rua. Gusmão analisa esses dados procurando entender como a identidade própria, que as crianças representaram por meio de desenho e texto, de um lado, ou da fala, de outro, revela sobre a sua bagagem sócio-histórico-cultural. Observe-se que na escola escolhida para a realização da pesquisa predominava a presença de crianças negras e pobres, assim como na rua. (Não discutirei os desenhos nem as entrevistas nesse resumo, pois o mais importante não é a análise desses dados, mas a teoria antropológica que serve de background para essa análise, a qual posteriormente deverá auxiliar o grupo a analisar os dados de sua própria pesquisa).
A conclusão de Gusmão é que, para as crianças, "o que é considerado realidade resulta da presença da família, escola e dos meios de comunicação, que operando por um jogo de aparências tornam conflitantes as relações entre os sujeitos sociais diversos com suas crenças e valores." Nesse sentido, o nosso grupo poderia tentar avaliar em que medida os alunos do Ensino Médio se enquadram nisso, ou seja, se eles possuem uma realidade e uma identidade fora dessas instituições "modeladoras" ou não. E fica também pergunta: de que modo a aula de filosofia pode ajudar os alunos na construção da identidade individual e na relação com a alteridade do outro?

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