terça-feira, 24 de maio de 2011

Atividade Prática - Resumo: “Psicologia Social, representações sociais e métodos”

Cristhiane Falchetti
O artigo “Psicologia social, representações sociais e métodos”[1] discute modelos metodológicos no estudo das representações sociais, no campo da psicologia social. Dentro das diversas abordagens, os autores destacam duas: a processual e a estrutural.

 “uma [processual] voltada para as questões culturais e históricas, que busca compreender os processos que geram e mantém as representações vivas nas interações entre os indivíduos e grupos sociais; e outra orientação [estrutural] mais voltada para as questões estruturais das representações sociais, compartilhadas tanto em nível cognitivo quanto lingüístico”. (SCHULZE; CAMARGO, 2000, p.288).

A abordagem processual recorre à metodologias que descrevem a origem e operação dos processos de representação em determinado contexto. Já a abordagem estruturalista se utiliza do método experimental para realizar o detalhamento da relação entre os conceitos teóricos.
Os autores também enfatizam outros elementos importantes a serem considerados, como: a complexidade dos fenômenos investigados; o contexto de estudo; a diversidade de olhares e vozes que caracterizam os grupos estudados. A metodologia pode ser qualitativa ou quantitativa, variando desde a observação etnográfica até a experimentação de laboratório, passando por entrevistas, questionários, grupos focais, uso de metáforas, estrutura de codificação e materiais diversos. A escolha da metodologia refere-se à sua adequação ao objeto e objetivos, sendo que a combinação de várias metodologias pode ser mais eficiênte para o estudo de fenômenos muito complexos. A articulação entre pesquisa qualitativa e quantitativa torna-se essencial, já que a distinção entre elas refere-se mais à obtenção de dados e aos métodos de análise do que ao delineamento e aos interesses da pesquisa.  
A respeito das dificuldades impostas pela complexificação dos fenômenos sociais em sua totalidade e a tênue relação entre o pesquisador e o seu objeto de pesquisa, os autores argumentam em favor da objetividade, tomando por base alguns pressupostos da teoria das representações sociais, como: a não ruptura entre mundo interno e externo; a ausência de separação entre os sujeitos que representam e o objeto representado; a possibilidade de inclusão da visão de mundo do pesquisador na construção do objeto de pesquisa e o fato de não vermos um antagonismo entre a constatação dos dados empíricos observáveis e a aceitação da realidade como sendo simbolicamente construída pela sociedade. Os autores, afirmam, ainda, que “a objetividade possa ser alcançada através da discussão aberta com os pares quando buscam-se explicações e interpretações alternativas” (p.290).
O pesquisador pode ter maior ou menor controle sobre a pesquisa, dependendo do método adotado. Entretanto, os autores apontam que quanto maior for o controle exercido pelo investigador sobre a metodologia, mais a situação pode tornar-se artificial e, portanto, o “impacto de realidade” será menor. Isso porque, o ator social, em geral, é consciente de sua participação numa determinada situação experimental, podendo omitir aspectos centrais para a compreensão do fenômeno analisado; ou, a metodologia pode gerar pressões que levam o ator a buscar agradar o investigador.
Para uma maior compreensão da questão metodológica, Schulze e Camargo (2000), tratam da utilização da linguagem como indicador de representações sociais, sobretudo os métodos que envolvem suvey, observação controlada e delineamentos quase-experimentais de campo, onde a linguagem passa a ser considerada de modo sistemático e padronizado.
Primeiramente, os autores apontam algumas limitações na utilização de material textual, como indicador da produção simbólica coletiva, nos estudos de representações sociais. O material textual envolve uma interação social, a qual incide e influencia o texto. Como forma de diminuir essa influência, as orientações iniciais aos participantes são fundamentais, mesmo quando se trata de material utilizado para outra finalidade é importante que as instruções originais tenham sido explicitadas pelo pesquisador. Eles também consideram inadequado o emprego do termo “discurso” como sinônimo de fala, na abordagem psicossocial, pois além de remeter à oratória, também está atrelado à sociolingüística crítica dos anos 70 e seus pressupostos.
Assim, a natureza do fenômeno das relações sociais e os recursos teóricos que procuram apreendê-lo colocam limites à utilização do material textual. O suporte lingüístico à psicologia social estaria mais na qualidade de referência ao objeto real da representação do que na especificidade lingüística da significação do mundo.
Representar é apresentar uma coisa no lugar de outra, mas a coisa ausente continua essencial. De acordo com as autoras,

A primeira função da representação é apresentar uma dada realidade ao pensamente, a segunda (indissociável da primeira) é interpretá-la, a terceira função é permitir ao pensamento organizar as relações dos homens entre si e com a natureza, e a quarta se refere ao fato das representações legitimarem ou não estas relações. (p. 294)

As representações podem ser ilusórias (ideológicas) ou não, constituindo-se em saberes cotidianos. As falas e textos dos indivíduos não pertencem a eles, mas são adotadas ou compartilhadas com seus grupos. Desse modo, o fenômeno das representações sociais não pode ser analisado no nível psicológico, mas sim no psicossociológico e sociológico, enquanto dinâmica de conteúdos estruturados. A gênese dos processos que geram as representações sociais pode ser recuperada descrevendo e comparando os elementos de diferentes momentos-produto deste conhecimento social compartilhamento. 
As autoras salientam o problema da indefinição entre o plano empírico-analítico e o plano teórico-metodológico na pesquisa sobre representações sociais, pois o material lingüístico dos participantes (suas representações) pode ser tratado da mesma forma que o material lingüístico produzido pelo pesquisador, ou seja, passa a ser uma representação do pesquisador.
O material lingüístico pode ser recolhido de duas formas: por escrito ou falado (anotado ou gravado). O exame de uma representação social exige comparação de textos e verificação de recorrências dos elementos lingüísticos (signos) e das suas relações (estruturação das palavras). “As palavras, no plano empírico, correspondem aos elementos de uma representação, no plano teórico” (p.295). O corpus da análise deve ser extenso para que garanta a evidencia de saberes compartilhados, por meio da recorrência de elementos e da estruturação entre os participantes.
 Conforme Henry e Moscovici (1968), a análise tem dois planos interdependentes na análise conteúdo: o vertical (análise das condições de produção) e o horizontal (análise dos textos). O procedimento de análise dos textos é determinado pelo plano vertical (objetivos da análise, escolha do material) e este último também é determinado pelos textos, na medida em que o textual deve as condições de produção consideradas.
São apresentados no texto, dois procedimentos de análise:
a)      Análise de evocação e associação de palavras: as representações sociais são concebidas como sistemas sócio-cognitivos, verificados pela estruturação de elementos lingüísticos. Neste método, cada índice empírico: “palavra” corresponde ao “indicador” elemento de uma representação social.
b)      Analise de texto “mais natural”: consiste na análise de material escrito em circunstância desproposital. A análise busca contextos textuais que são caracterizados pelo seu vocabulário e por segmentos de texto que compartilham de tal vocabulário. São verificados 3 níveis: a palavra, o enunciado, o contexto cognitivo. 


[1] SCHULZE, Célia Maria Nascimento; CAMARGO, Brigido Vizeu. Psicologia Social, representações sociais e métodos. Temas em Psicologia da SBP, v.8, n.3, 2000 (p.287-299). Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/tp/v8n3/v8n3a07.pdf . Acesso em 23 de maio de 2011.

Um comentário:

  1. Faz considerações metodológicas importantes para quem vai a campo, Cristhiane!
    E vcs acharam correlação com o que estão vivenciando nas escolas, nesse âmbito? Como vão as coisas nesse sentido?

    ResponderExcluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.