sábado, 7 de maio de 2011

Motivação em Vigotski 1 - ZDP: motivação e entendimento

Das primeiras conversas do grupo ficou claro que é preciso ter muito cuidado ao lidar com a idéia de motivação, especialmente dada a sua grande penetração dentro do cotidiano, dos debates midiáticos, das literaturas tão difundidas de auto-ajuda, enfim, do senso comum. Para além dessa armadilha que poderia orientar o grupo para respostas fáceis, há de se estar muito atento também para a penetração do conceito de motivação dentro da própria psicologia, em toda a sua diversidade de tendências, marcada por diversos conceitos, estruturas e princípios fundamentais ainda sob acirrada disputa. A motivação não passa despercebida e sua elucidação se insere concomitantemente entre essas explicações em disputa.

Ainda não foram feitas leituras diretas de Lev Vigotski acerca do foco do nosso grupo. Do que foi lido da sua teoria mais geral sem dúvida a noção de Zona de Desenvolvimento Proximal abriu algumas portas de análise, surgindo mesmo algumas hipóteses sobre como o autor se debruçará ou se debruçaria quando analisando a temática. Com a ajuda desse conceito de ZDP é possível perceber pelo menos duas frentes de elucidação da motivação (relacionada, nesse caso, à questão do aprendizado): por um lado, quando da transmissão de conhecimentos e idéias se tentar uma abordagem que exceda os conhecimentos reais e potenciais do interlocutor, isto é, se a fala se der em um nível acima da ZDP do ouvinte, então temos indícios fortes de uma situação de incompreesão, talvez logo levando ao desisteresse e, portanto, desmotivando o ouvinte - a passagem do não entendimento ao desinteresse e enfim para a desmotivação, vale salientar, é obviamente um processo bastante intersubjetivo, não cabendo pensar em uma associação mecânica entre uma e outra, só a título de exemplo, se o ouvinte ou a ouvinte está diante da paixão de sua vida dificilmente uma falta de entendimento será suficiente para lhe arrancar o interesse e a motivação para manter a conversa.

A segunda frente de análise segue basicamente a mesma lógica, mas agora a fala se dá em um nível abaixo da ZDP do ouvinte, ou seja, a transmissão de conhecimentos e idéias se dá acerca de assuntos que o interlocutor já domina fartamente, que já faz parte, portanto, de seu desenvolvimento real. De novo aqui, a situação em si dependerá de outros fatores para vir a causar desmotivação não cabendo pensar aqui em um mecanismo geral. Em um diálogo, por exemplo, longe de ser desmotivador, poderia levar o ouvinte a transmitir de forma bastante excitada todo o seu conhecimento para o falante, invertendo-se, pois, a posição da troca de conhecimentos, e mais, dependendo do conhecimento do falante e sua reação frente as falas do ouvinte, o diálogo pode tornar-se de alto nível - dando-se nas ZDP de ambos os interlocutores (tendo muito cuidado nas diferenças nos fundamentos - é possível ainda assim ver aqui uma forma vigostkiana de explicar o processo de aprendizado cooperativo de Piaget).

De fato ainda que esteja longe de explicar todo o processo de desmotivação, há, por outro lado, sinais claros de que o conceito de ZDP delimita, de forma geral, uma zona segura onde se pode transmitir conhecimentos e idéias e ter nesse processo boas chances de encontrar motivação por parte do interlocutor ou dos interlocutores. As complexidades e subjetividades do conceito de ZDP - criado por Vigotski especialmente para enfrentar a discussão de desenvolvimento/aprendizagem na psicologia, não como uma ferramenta de fácil aplicação prática - acabam sendo transmitidos também para essa hipótese geral da motivação.

Um comentário:

  1. As possibilidades que levantam vão numa direção importante, pois destacam a ZDP como categoria de análise...
    Heloísa

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