quarta-feira, 18 de maio de 2011

Resenha de Artigo para o Seminário em Grupo I

GUSTAVO RAFAEL BIANCHI AZEVEDO FERREIRA - RA:093845
Depois de uma breve introdução, o artigo de Lana Siman, Representações e memórias sociais compartilhadas: desafios para os processos de ensino e aprendizagem da história, apresenta a metodologia geral da pesquisa na qual ele se baseia - a qual pretendia investigar as representações sociais de crianças de nove a dez anos (4ª série) acerca dos negros na história do Brasil e a relação entre essas representações e a aprendizagem dessa história na escola - e justifica tanto a metodologia quanto a pesquisa a partir de certo embasamento teórico. Como esta parte do artigo de Siman parece ser a mais importante para o trabalho que nosso grupo pretende realizar, é interessante que este resumo se demore um pouco mais nela.
A metodologia utilizada naquela pesquisa se baseia na teoria construtivista da aprendizagem, e na teoria das representações sociais. Dito rapidamente, essa metodologia prescreve que para compreender o aprendizado das crianças (o que é aprendido e como é aprendido por elas) é preciso estudar o seu conhecimento antes e depois do ensino. Pois o construtivismo considera que os conhecimentos prévios do indivíduo desempenham um papel fundamental construção (que esse indivíduo realiza para si mesmo) de um conhecimento que é novo para ele.
Já segundo teoria das representações sociais, estas representações são úteis para estudar os conhecimentos dos alunos sobre temas da história, auxiliando no desenvolvimento de práticas pedagógicas. Siman cita Jodelet, segundo o qual uma representação social é "uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, tendo uma visão prática e concorrendo para a construção de uma realidade comum a um conjunto social". Siman continua afirmando o seguinte (esse trecho é importante):
“Desse ponto de vista, essa forma de conhecimento adquirido por meio dos processos sociais não é somente um produto de características inerentes à mente humana; também não é um simples reflexo de influências do meio ambiente. O conhecimento apresenta-se como uma construção, onde interagem o sujeito psíquico e o mundo exterior. Assim, as crianças e adolescentes não estão sujeitos a, simplesmente, absorver e refletir o conhecimento do mundo adulto, tal como um "espelho". Entre o ato de internalizar as concepções e expô-las, há um processo onde os objetos são rearticulados, onde age a individualidade de cada um.”
Construídas através de processos mentais, as representações são como formas novas que são atribuídas às coisas por um indivíduo ou por uma sociedade. Mas qualquer indivíduo está inserido em uma sociedade, e as representações desta irão interferir profundamente na construção das representações daquele. Portanto as representações sociais são muito importantes para a psicologia.
Depois de apresentar a metodologia e o embasamento teórico da pesquisa, Siman apresenta os procedimentos utilizados para a coleta de dados. Resumidamente, foi pedido duas vezes aos alunos, uma no começo e outra no final de um semestre, que eles fizessem desenhos sobre o tema “Os negros e os seus modos de vida” e que descrevessem o significado dos mesmos. Durante esse semestre tratou-se em sala de aula (na disciplina História) da importância dos negros para a história do Brasil, procurando desconstruir representações sociais simplórias, de senso-comum e/ou equivocadas e permitir a construção de representações mais amplas, complexas e históricas.
Em seguida, Siman apresenta os dados colhidos. Na primeira vez todas as crianças desenharam e descreveram situações que representam o negro apenas enquanto escravo, sempre submisso e sofrendo fisicamente, seja pelo trabalho pesado, seja pelo castigo, ou ambos. Na segunda vez muitas crianças permaneceram exibindo essa mesma representação do negro, mas algumas mostraram a esperada desconstrução dessa representação cristalizada, incluindo novos elementos em seus desenhos. Esses novos elementos vão em dois sentidos: primeiramente, a representação do negro na África antes do tráfico negreiro, ou seja, fora da condição de escravo; e em segundo lugar a representação do negro enquanto escravo mas não como submisso, e sim pensando em fugir, ou em fuga, ou em quilombos.
Por último, Siman faz algumas considerações finais. Basicamente, o fato de nem todas as crianças terem exibido a esperada desconstrução dos seus conhecimentos prévios “leva-nos, de um lado, a questionar a eficácia das estratégias pedagógicas e, de outro, a pensar o quanto representações sociais muito cristalizadas podem se tornar obstáculos para novas aprendizagens, constituindo-se num desafio de longo prazo”. Além disso, esse estudo teria fornecido “indícios do quanto representações sociais que guardam relação com os mitos e herança cultural de suas sociedades são resistentes, sendo, portanto, menos susceptíveis a mudanças rápidas”.

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